Adel Souki realiza, com a cerâmica a metáfora da criação do mundo, construindo com seus objetos, esculturas e instalações, os sinais que indicam caminhos para um possível entendimento da vida. Casas, torres, pontes, árvores, recipientes, cheios de calor que abrigam nosso olhar com suavidade - esses objetos moldados na argila, queimados em fogo lento e forte, constituem elementos de um cenário mágico, despregado da memória atávica de povos primitivos. As origens bíblicas desse movimento criativo projetam como uma manifestação de rendição da artista à sua ancestralidade, na procura de sentidos ocultos que se manifestam pelo próprio ato criativo, reacendendo no inconsciente as lembranças de antigas experiências transformadas em revelações. Adel concentra em suas esculturas essas mesmas forças e substâncias dos povos antigos que moldaram na argila da vida, a História, fazendo prevalecer com suas intuições mágicas a força do espírito, e seu movimento solar que produz o conhecimento. Para a artista restaurar para a modernidade esses sentidos, não será apenas dar forma nova a antigas configurações. Cada peça criada - no lento e laborioso processo da cerâmica - retém os silêncios e os tremores da matéria, tão altivamente moldável à vontade do criador, e tão sensível à sua interna e muda procura. Nela encontraremos, por certo, esboços de respostas que nos conectam com a história vivida e com um distante futuro que ainda entrevemos pelas frestas da intuição, e que um dia, também serão memória.

Márcio Sampaio